Estranho romance

''Pois é seu maldito! Eu disse que você não ia acreditar! Mas você insiste em dizer que eu sou emo só porque uso uma porra de franja!''
Disse Carlos quando estava já com a paciência e os nervos no limite quando não aguentava mais todos os seus colegas de escola rindo de como usava o cabelo quase que cobrindo os olhos.
Ele sempre escutou musicas pesadas, aquelas com guitarras de 4 acordes e bateria de uma ou duas elevadas. Emocore? Haha, não creio. Não pois o que tem de musicas populares com esses status são tantas, mas tantas! Que se for contar, putz... Mas enfim, voltando ao Carlos e sua forma um tanto depressiva de se expressar. Bom, ele sempre foi assim. E sempre foi feliz, com todos os seus poucos amigos de allstar e blusas pretas com a estampa do Good Charlote, My Chemical Romance, Simple Plan... Mas Carlos tinha desprezo por Nx-zero.
Não sei se foi porque os caras não tem nenhuma personalidade, ou porque a musica era um lixo mesmo. Mas ele sempre dizia:
''Cara, foda-se. Eu caguei mesmo pra sua opinião. Se não gostou da porra da minha roupa, f o d a-s e...''
Pois é, um típico revoltado. Tinha só 16 anos quando ouvindo o novo album do MCR, Danger Days, percebeu uma coisa: Antes os caras tinham personalidade! Tinham o jeito depressivo e fúnebre de se vestir e cantar mas mesmo assim, mudaram. Mudaram para uma história em quadrinhos! Hehe.
Ouvir este album foi como se algo dentro dele exclamasse: O punk não morreu!
Como se o MCR não estivesse só contando mais uma história, mas questionando e denunciando algumas falhas no comportamento dos jovens contemporâneos. Carlos sentiu a música pela primeira vez. E se viu como um Killjoy, ou quase.
Pois é caro leitor, era isso o que Carlos tentava explicar no início quando tentou confundir o garoto que mais batia nele na sua época emo. Ele não mais precisava do que palavras, e joga-las pra cima de seu antigo adversário, que ficou paralisado sem ter o que e como falar. E foi nessa mesma hora que a porrada iria estancar com todos na escola encarando o mais popular X o mais looser. Começaram as apostas e os empurrões pra cima de Carlos e Thiago, que ainda não sabia se ria ou se metia logo duas esquerdas no queixo do garoto magro de allstar.
''Que ele apanhe logo de uma vez! Eu quero ver sangue de emo!''
Disse um gordo que assistia de longe a roda que começava a se formar como um ring para Carlos e seu inimigo de longa data caírem e rolarem até que um não se aguente mais em pé, cena digna desses filmes americanos dos anos 80 em pátio de colégio. Mas para o azar, ou sorte de Carlos, o diretor estava em reuniões com os professores. E como nenhum inspetor ia com a cara do garoto fúnebre e melancólico sem amigos, esperaram pra ver só alguns arranhões na cara do garoto.
E quando todo o nó estava prestes a desabrochar, Carlos pensou rápido. E pensou mais rápido do que todos os acéfalos que o cercavam. O que ele tinha a sua frente, não era um ring para duas pessoas brigarem enquanto as outras assistem, mas uma roda punk.
É! Uma roda punk era o que tinha de rolar naquele momento, antes que Thiago tomasse coragem e lembrasse dos culhões que todos os bebês de 18 anos dizem ter e cravar ali mesmo sua glória... Carlos não podia deixar isto acontecer, não mesmo!
Quando Thiago deu seu primeiro passo em direção ao seu corpo não tão frágil, Carlos mesmo começou a puxar e empurrar os covardes que estavam logo ali atrás prontos para empurra-lo de volta ao ''ring'' quando quisesse fugir. Mas quem falou em fugir? Carlos tomou alguns socos e ponta pés, mas conseguiu usar a força de meia dúzia de garotos contra eles mesmos. E a obra de arte estava formada, só faltava a música...
Todos os que se meteram na roda apanharam muito, mas ninguém apanhou mais do que Thiago que estava bem no meio. Carlos poderia ter morrido ali se não fosse esperto o suficiente pra fugir na hora certa, e fugir daquela escola para nunca mais voltar. Porque se voltasse... com certeza as mentes fracas e fechadas não deixariam nenhum inspetor ou diretor impedir alguma coisa.


Comentários
Postar um comentário